sábado, 29 de dezembro de 2007

. de 2008 .

Para 2008:

livro com dedicatória;
névoa;
gaivota na areia;
telegrama de amor;
ganhar uma herança;
começar um caderno novo;
banquinho que gira;
mulher com pinta na boca;
dia livre;
viajar sem destino;
escrever um diário;
enfiar a mão num saco de grãos;
armazém antigo;
transmissão de pensamento;
Amarula com gelo;
lençóis brancos;
dar uma estrela;
Yves Saint Laurent;
compartilhar um segredo;
confeitarias;
caneta bic;
matar saudade;
leões-marinhos;
ir no banco da frente do carro;
carro conversível;
confiar em alguém;
voz rouca;
pisar na grama;
chafariz;
se espreguiçar;
andar de bicicleta;
cheiro de Sundow;
feriado no meio da semana;
cantar no chuveiro;
levar um animal abandonado para casa;
fazer uma tatuagem;
ver um esquilo;
banho de banheira em hotel;
mergulhar no mar;
rúcula;
fazer um canteiro de flores;
saber dançar música caribenha;
pendurar meias na lareira pra usá-las antes de dormir;
boiar olhando o céu;
lago com vitórias-régias;
conhecer uma igreja antiga;
nosso próprio travesseiro;
poemas de amor;
fogos de artifícios;
desenhar;
dançar quadrilha;
neve;
fumaça que escreve coisas no céu;
sonhar e lembrar do sonho depois;
tomar água da fonte com as mãos;
descobrir desenhos nas nuvens durante viagem de carro;
anoitecer em cidade do interior;
filme de Almodovar;
reconhecer as estrelas do céu;
comida feita na hora;
dia chuviscando;
ver artista na rua;
coincidências;
árvores centenárias;
“Mãe, cheguei”, de madrugada;
passear com cachorro;
abrir presente;
fogueira de festa junina;
ganhar uma aliança;
beijar na chuva;
letra bonita;
foto da gente criança;
chorar no cinema;
reencontrar amigo de infância;
empada de palmito;
não precisar acordar cedo no fim-de-semana;
adotar um vira-lata.

Que 2008 você viva muitos momentos deleitáveis.


Marcel.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

. do doer de pernas .


Amo-te com o doer das velhas penas,

Com sorrisos, com lágrimas de prece,

E a fé da minha infância, ingênua e forte.

Amo-te até nas coisas mais pequenas.

Por toda a vida.

E, assim Deus o quisesse,

Ainda mais te amarei depois da morte.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007


.



"E se tentarem te dizer que o amor enfraquece com o tempo, diga a eles que o tempo não existe."



[Jack Johnson]

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

. das bocas .


BOCA

A boca é uma porta aberta,
Fala, canta, grita, alerta,
Beija, lambe, chupa os dedos,
As línguas, os lábios grandes,
Pequenos, largos, fundos,
A boca é o cu do mundo.

Xinga, arrota, vomita,
Habita cáries, ácaros, tártaros, hálito,
Vermes, giárdia, solitária,
Bebe, fuma, fode, mente, sente, anima,
A boca é o cu de cima.

Baba, cala, ri, dói
Morde, assopra , assovia,
Cria sapinhos, aftas, pus,
Inflama, sangra, gosta,
A boca é uma bosta.

Respira, inspira, espirra,
Tosse, catarro, cospe,
Vê estrelas, céu, véu,
Palato, duro, mole, dentes,
A boca é uma serpente.

A boca faz caras,
Bocas, bicos, propagandas,
Escova, pinta. É uma só.
A boca é um outdoor.


Anderson Ribeiro

terça-feira, 21 de agosto de 2007

. dos desejos .



Quero ler de Kant a Nietzsche à tua frente.


Quero palavras passadas de dentro para dentro.


Quero emoções sentidas de forma que não possam ser explicadas oralmente.


E de uma coisa sempre estarei certo:


quero tudo isso somente ao teu lado.





. da duplicidade .




[...]

Por um momento ele pensou:

quem vence nesse mundo?

O amor ou o desejo?

O espiritual ou o físico?

A resposta estava ao seu lado.

Talvez seja possível juntar os dois, pensou.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

. dos sorrisos .


Ele não mais chorou em noites de frio.

Foi até dentro de si e trouxe um amanhecer tardio,

mas não fechou-se como mãos,

apenas foi abrindo os olhos, como quem acorda

e viu no espelho

(ainda manchado pelo tempo)

seu rosto marcado e seus olhos pesados.

Da gaveta da cômoda antiga e maltratada

retirou a sua caiza de pandora, limpou a poeira e abriu-a.

Dela nada saiu.

Mas tudo que estava ao seu redor menifestou-se

como um extraordinário redemoinho de sensações.

Inundou-se de sentimentos, sentou-se à margem da vida.

E sorriu.



Marcel

22.01.04

. da vida .


Ele não mais percisou fazer versos tristes.

Deitou-se em folhas em branco

e imprimiu sua alma

como quem faz poemas no escuro

(porém, as luzes estavam acesas).

E atravessou a noite com passos lânguidos

e frases não-feitas.

Ele deixou de lado a dor que sentia

quando jogou na fogueira o fardo que carregava.

Quis procurar novos versos

mas cuidou primeiro em cuidar do seu amor.

Construiu pontes e cruzou rios.

Abriu estradas, abriu pulmões, respirou.

E viveu.



Marcel

22.01.04

. do choro .


Ele não mais traçou caminhos sem rumo.

Um dia, balançando-se no pêndulo impreciso

(que é a vida)

olhou do alto o mundo em que vivia.

Viu os sorrisos passarem

como se passam os anos:

verdadeiros e presentes - porém efêmeros.

Percebeu que suas roupas eram velhas

e a moda, passageira.

Só os farrapos se eternizavam em tecidos crus

feito chambres maltrapilhos.

Como vento em desalento,

rodopiou febril na chuva que derramava cânticos nostálgicos.

E chorou.



Marcel

22.01.04

. um parêntese .


Divido minha vida em dois momentos:


antes e depois te ter você nos meus dias.




Já disse que te amo, hoje?





Bjo namorado.

:*

. pequeno poema para seres inanimados e corações vazios .


Meço umas palavras loucas

e atiro-as pela janela.

As flores que brotam do jardim da casa do meu amor

já não são mais amarelas

e do céu da minha boca

jorram músicas, fotografias e cartas.

Não me importa o dia da semana

gregorianamente condizente

com a rotina repudiante.

Vou é viver a terça-feira

como uma sexta de céu azul

e cheiro de chuvisco e jasmim.

Criarei todas as palavras que você não me disse

e jogá-las-ei por debaixo da tua porta

junto com flores vermelhas e copos de leite.

Escalo muros e arrisco rimas.

Não sou poeta e não sou rei,

porém,

tenho um castelo

de sonhos impossíveis

e canções de amor.



Marcel22.05.2002

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

. segredos de liquidificador .


Encostou na porta
e depois de alguns giros na chave,
de luz apagada, sombra de abajur,
pôde ouvir o barulho das idéias fervendo.

Correu até o escritório.

Na cadeira acolchoada, acomodou-se como se ouvisse música.
Contraindo espontaneamente
os músculos, os dedos e as mãos.
Suava frio e a noite estava quente.

Achou que uma compressa de água morna ajudaria.
Ou um copo de vinho tinto gelado, talvez.
Não conseguia mover-se - pernas trêmulas -
e mirava o corredor, gritando em silêncio
alguma inútil ajuda.

Tomou coragem, enxugou o suor.

De punho firme, e com precisão,
debruçou-se sobre a sua dor.
Gemeu e gritou por toda a madrugada
Sussurrava uma prece quase inaudível,
braços cansados.

Quando o dia entrou pela janela
Jogou-se no carpete de taco, com exaustão.

Havia parido seu primeiro poema.

[Marcel]

15.08.07

. amavisse .


Como se te perdesse, assim te quero.
Como se não te visse (favas douradas
Sob um amarelo) assim te apreendo brusco
Inamovível, e te respiro inteiro
Um arco-íris de ar em águas profundas.


Como se tudo o mais me permitisses,
A mim me fotografo nuns portões de ferro
Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima
No dissoluto de toda despedida.


Como se te perdesse nos trens, nas estações
Ou contornando um círculo de águas
Removente ave, assim te somo a mim:
De redes e de anseios inundada.



[Hilda Hilst]

sábado, 11 de agosto de 2007

. dos fragmentos .


E de repente
sorrisos tornam-se reais
como estradas materializando-se
nas palmas das mãos
e mudando os destinos
numa precoce e firme unilateralidade.
Na rapidez de um anoitecer
ele surge
– pássaro livre –
desprovido de grandes asas
mas com braços longos capazes de abraçar o mundo
e o corpo de quem ama.

Na estranheza dos ventos frios
Nos filmes que passavam na TV
Nas marcas pelos corpos
Nas peles
Nos olhos
Em tudo havia cheiro de chuva.

Então mãos se abraçaram e eu peço pra ficar por inteiro
como alguém que sempre esteve ao lado
e agora divide manhãs:

Ele me pede uns versos
Eu me dissolvo em poesia.

Marcel
07.08.07



. ao nosso aniversário de namoro .

que nosssas noites sejam sempre cheias de poesia

e que nossas manhãs tenham sempre um certo tom azulado.


te amo.