sexta-feira, 4 de setembro de 2009

PARTES


O tempo passa e o meu vazio pede remendos,

O meu desejo pede platéia,

O meu sonho pede cena.

A minha parte vontade é avassaladora,

A minha parte pecado é febril

Todas as horas são minhas, e, parte do tempo, perdido.


Por fora, sou todo amor, talvez cais.

Por dentro sou proveito, maré, defeito, colo e exaustão

Mas antes não fui, em cada instante que passou:

Porque o presente não tolera as mesmas falas (manias de passado),

E mesmo que se arraste, caia, canse,

Não há como tirar algumas horas pra se confortar nas lembranças

(coisas que vivemos só por viver, mas servem de saudade).


Não me fale da memória, essa senhora ranzinza que cria gatos.

Não me pergunte qual a dança, senão perco o passo.

Não me traga a esses cômodos aos quais o tempo chamou de lembrança.


Porque quando sou olhos, perco o tato e o tino.

Quando enxergo cada beco, cada ato, fico atado.

Quando desse céu rogo a ajuda, em forma de divindade é tudo chuva

Que eu cuido de secar.

E quando eu for chão, posso ser tua (ou aquela, ou daquela) estrada

Porque a pior parte de você sou eu.


Luiz Marcel


3º Lugar no Concurso de Poesia Falada, durante a XIV Exposição de Arte Contemporânea do Município.