quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Como se implorasse uma atenção demasiada,
Um pedido que lhe furte a cor dos olhos.
No dia anterior, curvara-se ao escuro,
Dera as mãos com o infinito,
Estivera em terra estranha
Procurando os braços dele
Entre o mofo do armário
No espelho de mão, atrás do bidê,
Na jardineira castigada pelo inverno.
Amanheceu ao lado dele,
Almoçou com o silencio.
Na ceia, um murmúrio, um grunhido,
Ela sorriu depois de longos anos
Mas seu sorriso não trouxe ao porta-jóias da memória
Os tesouros almejados pela alma.
- Então sufoca-me! – um grito em forma de exorcismo.
Como um quase sussurrar.
O trouxe pra perto de si. Tão perto.
Tão perto, tão dentro
Que o viu sumir em sua pele.
E ficou só.
Esquecida. Pesada e quente.
Preenchida e inundada por ele,
Finalmente abafada por dentro.
Luiz Marcel
27.10.09
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
PARTES
O tempo passa e o meu vazio pede remendos,
O meu desejo pede platéia,
O meu sonho pede cena.
A minha parte vontade é avassaladora,
A minha parte pecado é febril
Todas as horas são minhas, e, parte do tempo, perdido.
Por fora, sou todo amor, talvez cais.
Por dentro sou proveito, maré, defeito, colo e exaustão
Mas antes não fui, em cada instante que passou:
Porque o presente não tolera as mesmas falas (manias de passado),
E mesmo que se arraste, caia, canse,
Não há como tirar algumas horas pra se confortar nas lembranças
(coisas que vivemos só por viver, mas servem de saudade).
Não me fale da memória, essa senhora ranzinza que cria gatos.
Não me pergunte qual a dança, senão perco o passo.
Não me traga a esses cômodos aos quais o tempo chamou de lembrança.
Porque quando sou olhos, perco o tato e o tino.
Quando enxergo cada beco, cada ato, fico atado.
Quando desse céu rogo a ajuda, em forma de divindade é tudo chuva
Que eu cuido de secar.
E quando eu for chão, posso ser tua (ou aquela, ou daquela) estrada
Porque a pior parte de você sou eu.
Luiz Marcel
3º Lugar no Concurso de Poesia Falada, durante a XIV Exposição de Arte Contemporânea do Município.